Baseada no culto do dia 19/01/2025
No Sermão do Monte, Jesus nos confronta com uma proposta de vida radicalmente diferente daquela estabelecida pelas tradições religiosas e sociais de sua época.
“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.” Mateus 5:38-42
No texto, Jesus trata da famosa expressão “olho por olho, dente por dente”, tirando-a do campo da legalidade e transportando-a para a dimensão do coração. O que está em jogo aqui não é apenas a maneira como reagimos a ofensas, mas a forma como vivemos à luz da graça de Deus.
A Lei de Talião, que aparece em textos como Êxodo 21:23-25, Levítico 24:19-20 e Deuteronômio 19:21, foi originalmente criada para limitar a retaliação e evitar a vingança desproporcional. Era uma lei de equilíbrio, não de crueldade. Mas com o tempo, a justiça proporcional se transformou em justificativa para reações impulsivas. Jesus, no entanto, apresenta uma nova perspectiva. Ele não está negando a justiça, mas está chamando seus discípulos para viverem em um nível mais elevado — o nível da graça.
Essa graça não é permissiva nem passiva. Pelo contrário, ela exige renúncia ao ego, domínio próprio e confiança total em Deus. Quando Jesus nos manda oferecer a outra face, entregar também a capa ou caminhar a segunda milha, Ele não está dizendo que devemos ser cúmplices da injustiça, mas que devemos responder a ela com uma força interior que vem do Espírito Santo.
Quando Jesus fala em dar a outra face, naquela cultura, Ele está se referindo à resposta a um tipo de agressão que necessariamente não era físico, mas um ataque à honra, uma vergonha pública. Em vez de reagir com ira, o discípulo de Jesus responde com dignidade e firmeza espiritual. Isso é liberdade: a capacidade de agir por amor, mesmo quando se é ferido. Revela um coração que não é dominado pelo mal, mas vencido pelo amor de Deus. Não é uma proposta de passividade diante da injustiça, mas uma resistência ativa e não violenta.
A vingança nasce do desejo de retribuição pessoal, quase sempre motivada pela dor, pela raiva ou pela frustração. Já a justiça verdadeira — a de Deus — visa à restauração. Ela é imparcial, fundamentada em princípios eternos e promovida pelo Espírito.

Muitas vezes, carregamos um sentimento de vingança sem perceber. Guardamos mágoas, desejamos secretamente que o outro “pague” pelo que fez. Mas isso contamina o coração, enquanto Jesus nos chama a viver com o coração limpo:
“bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” Mateus 5:9
O pacificador não nega a dor, mas escolhe não perpetuá-la. Ele quebra o ciclo do mal com o bem.
O exemplo de Cristo é a nossa referência, em 1 Pedro 2:21-24:
“Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.”
Jesus viveu exatamente o que ensinou, e hoje, Ele nos convida a fazer o mesmo.
Isso tem aplicações práticas poderosas. No casamento, por exemplo, quando um dos cônjuges é ferido por uma palavra ou uma atitude, a tendência natural é responder na mesma medida. Mas quem vive sob a graça escolhe responder com mansidão. No ambiente de trabalho, diante de uma injustiça, é fácil cair na armadilha da reclamação e da vingança velada. Mas o discípulo de Cristo escolhe a excelência e a humildade como resposta. Isso é caminhar a segunda milha.
Camilhar a milha extra, no contexto da época, aponta para o seguinte fato:os soldados romanos podiam obrigar qualquer cidadão a carregar suas cargas por até uma milha. Jesus propõe que o discípulo vá além, oferecendo mais do que o exigido. Isso transforma a obrigação em oportunidade de testemunho. Quem faz além do que é esperado revela que serve a um Reino maior.
Tudo isso nos mostra que a verdadeira liberdade está em não sermos escravizados pelas reações humanas. Quando escolhemos perdoar, amar, oferecer mais, estamos agindo como filhos de Deus, refletindo Seu caráter. O Espírito Santo nos capacita a viver assim, cultivando frutos como paciência, bondade e domínio próprio:
“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.” Gálatas 5:22-23
Provérbios 15:1 nos lembra que “a resposta branda desvia o furor”. Às vezes, um simples gesto de mansidão é suficiente para desarmar um ambiente carregado. Provérbios 24:17,18 nos adverte: “Quando cair o teu inimigo, não te alegres, e não se regozije o teu coração quando ele tropeçar; para que o SENHOR não veja isso, e lhe desagrade, e desvie dele a sua ira.”
O cristão não se alegra com a dor do outro, mesmo quando esse outro nos feriu. Isso é graça. Esse padrão de vida é elevado, é verdade. Mas é possível para quem está cheio do Espírito.
A pergunta que fica é: você está disposto a abrir mão da vingança e confiar na justiça de Deus? Está disposto a responder com graça, mesmo quando é difícil? Está disposto a perdoar, mesmo que pareça injusto?
Jesus nos chama a viver assim. Quando escolhemos esse caminho, nosso coração é curado, nossa alma é livre e nosso testemunho se torna poderoso. Que hoje você decida viver pelo padrão da graça — não pela regra da retribuição, mas pelo caminho da restauração. Porque a vingança pertence ao Senhor, mas a graça foi confiada a nós para manifestar o Seu Reino na terra.
Deus abençoe sua vida poderosamente!
Alexandre Paz
Assista a essa ministração completa pelo link abaixo: