(Palavra ministrada no culto de 25/09, Ap. Alexandre Paz)
A compreensão a respeito da Lei e da Graça é libertadora. No entanto, quando são mal compreendidas, podem gerar embates quanto aos conceitos a respeito do “tempo da Lei” e do “tempo da Graça”. Quem determinou a separação das escrituras como “Velho” e “Novo” testamentos? Será que um substitui o outro?
Ambos os Testamentos estão conectados e se complementam. Vemos que o próprio Jesus citou o Salmo 22 quando, da cruz, Ele bradou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?” Ao trazer essa porção das Escrituras, Jesus estava, na verdade, dizendo que aquela palavra do Velho Testamento estava se cumprindo naquele momento. Era a forma de Jesus fazer referência a todo o capítulo 22 do livro de Salmos – um capítulo messiânico.
A Bíblia é um livro histórico cujo tema central é o evangelho. Ela contém princípios de Gênesis a Apocalipse. Percebemos que há uma mudança de nível a partir da vinda do Messias à Terra, com o intuito de cumprir tudo o que estava escrito a Seu respeito no Velho Testamento.
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus.”
Mateus 5:17-19
Neste texto vemos claramente a importância de ensinarmos a lei, e que aquele que não a ensina é considerado pequeno no reino dos céus, mas o que a ensina é considerado grande. Jesus veio para cumprir a Lei. Sua morte e ressurreição se encaixam no plano de redenção do homem, mas observe que para redimir o homem Deus não quebrou a Lei.
Então, onde entra a Graça? Primeiramente, precisamos compreender o que é a Graça. Há uma definição muito comum que afirma: “A graça é um favor imerecido”. Embora essa afirmação seja verdadeira, reflete apenas parte do real significado da graça de Deus. Se vemos somente desta forma, corremos o risco de agirmos levianamente, banalizando a graça divina.
A Graça, portanto, não se trata de um “tempo” ou uma dispensação, mas um estado nas nossas vidas. Afinal, como podemos compreender a real dimensão da graça? Recentemente vimos o caso de um parlamentar em nosso país que havia sido condenado pela justiça (lei) e que recebeu do Presidente um decreto de “graça” que lhe trouxe absolvição. Fica claro aqui que a graça tem a ver com o perdão.
Esse conceito de graça era muito comum na época de Cristo. Como vemos em Lucas 16, o mordomo infiel aplicou graça perdoando os devedores do seu senhor. Ele perguntou a cada um dos devedores quanto poderiam pagar e, ao entregarem aquilo que estava dentro das possibilidades de cada um, o mordomo deliberadamente, perdoou o restante do débito. Vemos aqui a Graça como perdão de parte de uma dívida.
Diferentemente do que costumamos ouvir, a Graça não é totalmente de graça. Pelo contrário, a pessoa que a recebe entra com aquilo que tem e o saldo lhe é perdoado. Quando Jesus morreu por nossos pecados, exerceu graça sobre a nossa dívida, mas será que não há ainda uma parte a ser “paga” por nós? Qual é a parte que nos cabe? A Bíblia fala que precisamos crer (e viver de tal modo) e sermos batizados (novo nascimento). Somente compreendendo isso poderemos estar debaixo da Graça, pois quem está fora da graça, inevitavelmente, ainda está debaixo da Lei.
Em João 8 encontramos o relato de uma mulher que havia sido pega em adultério. A Lei, conforme Levítico capítulo 20, ordenava que esse tipo de pecado fosse condenado à morte por apedrejamento. “Os escribas e fariseus a fim de achar algo de que acusar Jesus, lhe perguntaram, Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?” João 8:4,5
Na continuação lemos, “Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Erguendo-se Jesus e não vendo ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.” João 8:7-11
Mesmo sendo o único sem pecado, e considerando que, mediante a Lei, poderia apedrejar a mulher, Jesus aplicou Graça ao deixá-la ir. Porém, um preço lhe foi anunciado, “vá e não peques mais”. Podemos, desta forma, afirmar que, para que a Graça fosse validada em sua vida, ela precisaria abandonar o pecado que a Lei condenava.
Encontramos outro exemplo disso na parábola contada por Jesus no evangelho de Mateus: “Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.” Mateus 18:23-35
Esses dez mil talentos equivalem hoje ao montante de 10 milhões de dólares, ou seja, era uma dívida impagável! Porém, vemos que o senhor exerceu graça com o seu servo e lhe perdoou a dívida. Mas, quando chegou a vez do servo exercer graça com o seu conservo (que lhe devia um valor muito menor) ele endureceu o coração e mandou prender o conservo até que lhe pagasse a totalidade da dívida. Ao tomar conhecimento do ocorrido, o senhor retirou a graça que lhe fora concedida, pois este perdão de dívidas estava condicionado à capacidade do servo de perdoar, da mesma forma, seus devedores.
No verso 35 lemos uma afirmação poderosa: “Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”. Podemos, assim, concluir que a Graça é condicional. Precisamos compreender que o amor de Deus é incondicional, mas sua graça é condicional. Jesus está trazendo uma parábola muito importante que revela claramente que, se não agirmos para com nossos irmãos da mesma forma que Ele agiu conosco, exercendo misericórdia, perderemos a absolvição e teremos que pagar a nossa própria dívida.
Na época da Lei vemos que ela era bastante pesada. Quando uma pessoa errava, era punida pela própria lei. Porém, quando Jesus veio, através do Seu sacrifício abriu uma porta de oportunidade para o arrependimento e absolvição. Como vimos na parábola referida (do “credor incompassivo”, em Mt 18) o primeiro servo devia muito mais. Ele estava no nível da Lei, que dizia “Você deve, você tem que pagar ou será punido”. No entanto, ao suplicar ao seu senhor, ele saiu do nível da Lei e foi para o nível da Graça, por conta do coração de seu senhor. Agora ele havia sido perdoado; porém, para que permanecesse naquele nível, precisaria agir com graça para com os demais. Ao sair dali e não cumprir a parte que lhe cabia, desceu do plano da Graça e voltou para o plano da Lei.
Precisamos compreender que a Graça se sobrepõe à Lei, mas não a cancela.
Então, quando saímos do plano da Lei e entramos no plano da Graça, vivemos um plano de amor, perdão, absolvição e compreensão. Porém, quando saímos desse plano retendo o perdão a outros, voltamos, inevitavelmente, ao rigor da Lei. Muitos, por não compreenderem como a Graça funciona, acabam oscilando de nível, entre Lei e Graça. Se olharmos atentamente, veremos que tudo isso está atribuído ao cumprimento de princípios pois, quando fazemos o que Cristo nos instrui nas Escrituras, estamos debaixo da Graça; porém, quando pecamos, se não nos arrependemos, voltamos para o nível da Lei, onde há condenação.
Por isso, mesmo após aceitarmos Jesus, se não estivermos debaixo da Graça podemos perder a salvação, pois a palavra nos diz: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;” Efésios 2:8
A Pra. Tânia Tereza fala algo que é bastante pertinente ao tema. Ela diz que a nossa conexão com o Espírito ocorre de maneira vertical e a nossa conexão com as coisas da alma, de maneira horizontal. Se a nossa conexão horizontal estiver contaminada pelos nossos relacionamentos, isso afetará a nossa conexão com o Espírito. Isso fica claro quando vemos que um pouco antes de contar esta parábola aos discípulos, Jesus responde ao questionamento de Pedro: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Mateus 18:21,22
E na continuação deste texto, Jesus nos conta a história do credor incompassivo que, em outras palavras, nos ensina: “Se vocês não perdoarem, o meu Pai removerá o perdão”. Isso é algo muito sério, pois a nossa salvação também depende disso. Quando deixamos de perdoar, os verdugos (que, nesta parábola, representam os demônios) são liberados para nos oprimir até que nós paguemos toda dívida que, na verdade, é impagável.
Isso fica ainda mais evidente na Oração do Pai Nosso, onde Jesus nos ensina a orar dizendo, “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e PERDOA-NOS AS NOSSAS DÍVIDAS, ASSIM COMO NÓS TEMOS PERDOADO AOS NOSSOS DEVEDORES; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!” Mateus 6:9-13
Perceba que a oração diz “Perdoa-nos… assim como nós”, que significa “da mesma forma que nós…”. Como temos perdoado aqueles que nos devem? Nosso coração tem sido misericordioso ou será que temos justificativas e/ou argumentos para retermos o perdão àqueles que nos machucam, nos ofendem ou que nos fazem mal? Seja qual for a sua resposta, saiba que é dessa forma que você receberá o seu perdão.
A falta de perdão nos rouba a graça que Deus tem para nós! Hoje Deus está nos dando uma oportunidade de conserto para que possamos voltar ao nível da Graça conquistada através de um alto preço por Jesus na cruz!
Deus abençoe a sua vida!
Ap. Alexandre Paz
Assista ao culto completo pelo Youtube: