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Festa de Hanuká

Culto de 10/12/2023

A Igreja de Cristo tem sido ampliada no entendimento, voltando às origens bíblicas e restaurando princípios eternos. Não buscamos judaizar a igreja, mas reconhecemos a importância de recuperar princípios fundamentados na Palavra de Deus, numa visão de retorno à Jerusalém (e não Roma) como ponto de origem e convergência das ações do Senhor. Ao explorarmos essa teologia, nos deparamos com a participação de Jesus na Festa da Dedicação, também chamada de Hanukkah:

“Celebrava-se em Jerusalém a Festa da Dedicação. Era inverno. Jesus passeava no templo, no Pórtico de Salomão.” João 10:22,23 

Sabemos que os princípios bíblicos, embora fundamentados em fatos históricos, continuam relevantes e, por isso, hoje compreenderemos a que, de fato, aponta esta festa e qual princípio essa celebração contém.

Explorando as festas do Senhor em Levítico 23, entendemos que cada uma delas aponta para o Messias. Tabernáculos, associado ao nascimento de Jesus, revela que Ele é a primícia de Deus. O nascimento de Jesus em Tabernáculos, na festa das primícias, destaca Sua importância como o primogênito, unindo uma multidão de filhos semelhantes a Ele no Reino de Deus. Já a Páscoa, aponta para a morte e a ressurreição de Jesus, enquanto Pentecostes fala da entronização de Cristo e a subsequente descida do Espírito Santo.

A festa de Hanukkah, apesar de não estar no cânone bíblico, conta um milagre que ocorreu após o fechamento do cânone judaico. A seleção dos livros canônicos envolveu critérios específicos, e a Bíblia que usamos hoje reflete essa escolha. O cânon judaico compreende Torah (Pentateuco), os escritos históricos, poéticos e proféticos. Este cânon já está fechado, sem adições permitidas. Por outro lado, o cânon católico abarca os livros do cânon judaico (Antigo Testamento) e inclui sete livros adicionais que foram acrescentados após o fechamento do cânon judaico, além do Novo Testamento. Os evangélicos adotam o cânon judaico (Antigo Testamento) e a parte do Novo Testamento dos católicos, mas seu cânon não está fechado. Embora seja improvável que novos livros sejam adicionados, teologicamente há espaço para inclusões. Existem escritos históricos valiosos que não foram incluídos nos cânones, como o Evangelho Segundo Barnabé e o Livro de Sabedoria de Salomão, muitas vezes devido à sua descoberta posterior ao fechamento do cânon ou por razões desconhecidas.

Um exemplo é o Livro de Macabeus, presente no cânon católico, mas ausente no cânon judaico. Essa narrativa destaca a história de uma família sacerdotal e sua relevância está associada à Festa de Hanukkah, num evento muito aproximado, inclusive, da época de concepção do Messias.

O intervalo de 400 anos entre o Antigo Testamento e os Evangelhos é um período em que a cultura grega influenciava a região, inicialmente pelo império selêucida e, posteriormente, pelo domínio romano durante a época de Jesus. O imperador Antíoco Epifânio IV oprimiu os judeus, desafiando suas práticas religiosas, inclusive sacrificando porcos no templo reconstruído por Esdras.

Essa afronta levou à revolta liderada por Mateus Macabeu, membro de uma família sacerdotal a quem foi exigido que realizasse sacrifícios de porcos no altar do templo do Senhor. A história descreve a resistência dos sacerdotes contra a opressão do império selêucida, destacando a importância da preservação da fé e práticas religiosas diante das adversidades. Houve uma guerra, uma batalha sangrenta que perdurou aproximadamente oito anos, até que os judeus conseguiram recuperar o templo. Mesmo contando com um exército modesto, os israelitas conseguiram retomar o templo diante de um império poderoso.

Aqui se inicia a narrativa do milagre. Vencer já era, por si só, um grande milagre, mas a história do milagre de Hanukkah começa no momento em que foram consagrar o templo ao Senhor de Israel novamente, numa festa de dedicação. Logo que o templo foi recuperado, era necessário que imediatamente fizessem a sua dedicação. No entanto, enfrentavam uma escassez de óleo. Possuíam óleo suficiente para manter a menorá acesa por apenas um dia. 

Então, ao consagrar o templo, acenderam a menorá, mesmo com óleo insuficiente (seria necessário pelo menos uma semana para produzir mais daquele óleo, conforme os padrões dados por Deus a Moisés). Porém, a menorá, contra todas as probabilidades naturais, permaneceu acesa durante toda a semana. O óleo subsistiu miraculosamente, permitindo que os judeus glorificassem ao Senhor na Festa da Dedicação, comemorando oito dias de milagre.

Agora, a pergunta é: qual a relevância disso para nós, crentes em Jesus Cristo, e para a Igreja do presente século? Qual princípio está contido nessa história? Por que Jesus participou dessa festa? Inicialmente, como judeu, Ele participava das festas judaicas. Entretanto, hoje lembramos dessa festa não por razões judaicas, mas porque ela traz lições importantes para a Igreja contemporânea. Vamos explorar mais um texto bíblico para entender melhor:

“Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” 1 Coríntios 6:18-20

Nesse contexto, a Palavra nos instrui a fugir da impureza, destacando que a imoralidade prejudica o próprio corpo, que é santuário do Espírito Santo. Somos alertados de que não pertencemos a nós mesmos, pois fomos comprados por um preço. Assim, a exortação é glorificar a Deus em nosso corpo que, agora, passa a ser morada do Espírito Santo.

Paulo utiliza metáforas e figuras de linguagem, semelhantes às que Jesus empregava em suas parábolas, para transmitir verdades eternas de maneira compreensível. Quando ele afirma que somos templo do Espírito Santo, ele presume que compreendemos o significado profundo dessa expressão, por ser tratar de algo tão presente naquela época. Paulo contava com a total compreensão por parte dos crentes da época, algo que, talvez hoje, não seja tão facilmente compreendido por nós. 

O templo, inicialmente, não servia como local de pregação, mas sim como um lugar de oferta e sacrifício. As sinagogas eram os locais onde ocorriam as pregações e a leitura dos rolos da Torah. O templo possuía três partes distintas: o pátio, com o altar de sacrifício e a pia para lavagem dos sacerdotes; o interior, com a Menorá, a mesa dos pães e o altar de incenso; e o Santo dos Santos, acessível pelo sumo sacerdote apenas uma vez por ano, onde estava a Arca da Aliança.

Quando Paulo afirma que somos templo do Espírito Santo, é imperativo que compreendamos plenamente o significado dessa afirmação. Quando abordamos festas e dedicações, não nos referimos apenas à celebração de um templo físico profanado, mas sim à dedicação de um tabernáculo terreno, frequentemente contaminado pelo pecado.

Ao falar de pecado, não limitamos a discussão a transgressões óbvias como adultério ou homicídio. Há também o pecado interior, aquele que ocorre no coração, nos pensamentos e nas influências que comprometem relacionamentos, santidade, palavras e testemunho.

A Palavra nos exorta a considerar a dedicação do nosso templo terreno, pois nosso corpo não foi criado para o pecado, mas sim para a glória de Deus. Hanukkah, ao ser celebrada, nos convida a examinar nossas vidas e a purificar nosso templo interior. Aí está a rededicação do templo, agora fazendo referência ao nosso corpo físico e à nossa própria vida como testemunho e vaso que carrega um óleo de grande valor.

A história dos Macabeus, embora muitas vezes associada aos católicos, oferece valiosos ensinamentos para todos. Hanukkah celebra o milagre da libertação sobrenatural desejada por aqueles que não possuíam um exército para vencer a guerra. Eles sonhavam com a dedicação do templo ao Senhor, um feito que se concretizou unicamente através de um milagre. Em Hanukkah celebramos não apenas a tradição, mas principalmente o milagre de Deus em direção às nossas vidas.

Assim como buscamos a santificação do corpo, compreendemos que, ao andarmos em santidade, o Senhor flui como um rio do nosso interior. O entendimento crucial é que Deus pode realizar milagres, como na história da geração sacerdotal que, desprovida de um exército, triunfou em uma guerra aparentemente invencível.

A hanukia, símbolo de Hanukkah, é iluminada como recordação desta vitória. Ela é parecida com uma menorá, mas com nove hastes (um central chamada servo, que acende as outras oito). O versículo chave da  Menorá no contexto judaico está em Zacarias 4:6: “Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos.”. Israel compreendeu que não era por força humana, mas pelo poder do Senhor.

A mensagem de Hanukkah ecoa em nossos dias, lembrando-nos de que o Senhor concede vitória sobre os inimigos. Quando vencemos, Deus restaura sonhos esquecidos e aquilo que foi roubado. A fé na restituição é fundamental, pois Deus é capaz de devolver o que perdemos.

Ao considerarmos as Escrituras, lembramos que a promessa não é exclusiva dos judeus do Antigo Testamento:

“Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.” Gálatas 3:28-29 

Paulo ensina que, em Cristo, somos herdeiros de todas as promessas feitas a Abraão. Independentemente de nossa origem, em Cristo somos um, e herdeiros dessa promessa. Portanto, podemos confiantemente declarar que Deus realizará nossos sonhos e os exércitos do Senhor estarão trabalhando a favor daqueles que são dEle.

Sonhe e deposite aos pés da cruz o seu sonho. Deus pelejará por você!

Alexandre Paz