Texto baseado no culto do dia 11/05/2025.
O coração de Deus se revela de formas que podemos compreender.
“Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados.” Isaías 66.13
Aqui, Deus se compara ao consolo de uma mãe — uma linguagem carregada de ternura, proteção e segurança. Ele escolhe nos alcançar com imagens familiares para que possamos experimentar o Seu cuidado de forma real e acessível.
Vivemos tempos em que os relacionamentos se tornaram superficiais e o amor parece esfriar. Mas, quando temos nossa identidade restaurada em Cristo, à luz da Palavra, voltamos a experimentar o amor que consola, forma e fortalece — um amor que nos devolve segurança e pertencimento. Esse cuidado não depende das nossas referências humanas. Deus é Pai, é cuidador e manifesta Seu amor de modo profundo e transformador.
Em Gênesis 3.20, vemos algo profético: “E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos.”Mesmo após a queda, Deus não revoga o propósito. Eva, cujo nome significa “vida” ou “fonte de vida”, continua sendo chamada para gerar. Isso nos mostra que a identidade e o propósito dados por Deus permanecem, apesar dos erros ou circunstâncias.
Gerar, no Reino de Deus, vai além do aspecto físico. É um chamado para cuidar, formar, interceder e acompanhar. Há pessoas que, mesmo sem filhos naturais, são instrumentos poderosos na vida de outros, sendo exemplos de fé, discipulado e amor prático. Essa é a maternidade e paternidade
espirituais — realidades que nos desafiam a gerar filhos no espírito e deixar um legado eterno.
Paulo reconhece isso ao escrever a Timóteo:
“Recordo-me da tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também em ti.” 2 Timóteo 1.5
A formação espiritual de Timóteo foi marcada pela fidelidade daqueles que o antecederam. Ainda que seu pai fosse ausente espiritualmente, ele cresceu instruído na Palavra por mulheres de fé. O impacto da intercessão e do exemplo delas preparou Timóteo para o chamado.
Esse testemunho nos ensina que uma vida de oração tem poder para marcar gerações. Homens e mulheres que intercedem por sua casa, discipulam seus filhos — naturais ou espirituais — e vivem com firmeza constroem uma fé que permanece. Quando Paulo encontra Timóteo, ele já está preparado para ser discípulo, porque sua base foi sólida. Posteriormente, torna-se pastor da igreja em Éfeso.
Ainda que nem todos venham de lares espiritualmente estruturados, a influência de um homem ou mulher de oração pode ser decisiva. O inimigo investe pesadamente contra as famílias, contra os jovens e contra a fé. Mas a oração, a perseverança e o exemplo continuam sendo armas poderosas nas mãos dos que creem. Deus não abandona a intercessão fiel.
No conhecido episódio de 1 Reis 3, vemos a sabedoria de Salomão sendo provada por duas mulheres que disputavam a maternidade de uma criança. O rei propõe dividi-la ao meio, e a verdadeira mãe prefere abrir mão do filho a vê-lo morrer. Esse momento revela o coração sacrificial de quem ama de
verdade. Quem ama de forma genuína está disposto a renunciar, proteger e preservar a vida do outro — mesmo que isso custe algo pessoal.
Esse amor nos lembra do próprio Deus, que entregou Seu Filho para que tivéssemos vida (João 3.16). Esse amor é graça — não porque merecemos, mas porque Ele decidiu nos amar. E assim também devemos amar: com um amor que insiste, que perdoa, que forma, que não desiste.
No Evangelho de João 19.26–27, Jesus, mesmo em agonia na cruz, vê sua mãe e o discípulo amado, e declara: “Mulher, eis aí teu filho… Eis aí tua mãe.” Com isso, Ele garante que Maria seja cuidada, mas também reconfigura os vínculos — do natural para o espiritual. Maria representa aqui a Igreja que gera, que acompanha até o fim, e João, o discípulo que honra e leva para casa o que foi gerado.
Essa atitude nos aponta uma direção profética: todo discípulo maduro leva, de alguma forma, a Igreja para dentro de casa. Ele cuida, protege, honra aqueles que um dia o formaram. As células nas casas, hoje, são fruto de homens e mulheres que amadureceram, foram discipulados e agora também estão gerando outros. Isso é legado. Isso é multiplicação.
No final do livro de Malaquias, lemos:
“Ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais…” Malaquias 4.6
Estamos vivendo um tempo de restauração entre gerações. O Reino de Deus se manifesta por meio da honra, da transmissão da fé e do cuidado mútuo. Pais espirituais cuidam dos filhos, e os filhos crescem para cuidar de outros. Essa cadeia de discipulado é a base da expansão do Evangelho.
Se queremos ver transformação em nossa casa, em nossa célula e em nossa geração, precisamos assumir nossa fé com coragem, viver com integridade e investir nos outros com amor. O exemplo é mais poderoso do que o discurso. Pais e líderes que vivem aquilo que pregam marcam mais profundamente do que palavras soltas.
Seja você também um instrumento de formação, de intercessão e de consolo. Que sua vida gere outras vidas. Que sua casa seja um ambiente de fé. E que o amor que você recebeu de Deus se transforme em legado eterno para outros.
Deus abençoe a sua vida! Alexandre Paz